segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As faces da informação


Antes da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro em maio do ano de 2012, foram feitas várias tentativas de tomada do morro pela Polícia Militar, que sempre terminavam em confrontos violentos entre policiais e supostos traficantes e seus bandos.
Assistindo ao noticiário de uma emissora de televisão por ocasião de um desses confrontos, causou-me estranheza o texto lido pelo apresentador, dizendo mais ou menos o seguinte:
“A polícia cercou todo o complexo do Morro do Alemão no Rio de Janeiro, dificultando a passagem de traficantes (...) em compensação os traficantes derramaram óleo em todas
as vias de acesso ao morro, impedindo que a polícia suba e consiga realizar suas ações" enquanto na tela as imagens mostravam  alguns carros militares derrapando e desistindo  de subir.
Notícia absolutamente verídica.
Agora, imagine a diferença do impacto caso o texto mostrasse inversão da situação. Mais ou menos dessa forma:
“ Os traficantes do Morro do Alemão derramaram óleo nas pistas de acesso(...) dificultando a subida dos carros policiais. Em compensação a Polícia Militar está cercando todo o morro,
impedindo que os traficantes e seus comparsas saiam do complexo.”
É fácil perceber que uma sutil modificação na ordenação de palavras faz uma enorme diferença. O texto lido na TV dava poder a um grupo. O texto sugerido transfere o poder a outro grupo.
É tão necessário ler os vários lados de uma mesma informação ainda que não mostrados, quanto importante é saber ler as várias maneiras de  apresentar um mesmo fato, recorrendo-se a mais de um veículo de informação e tendo-se em mente que existem inúmeros pontos de vista possíveis.


Gilberto Leite
gilbertopleite@hotmail.com

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