Hoje recebi uma mensagem da grande
amiga Célia Maria, que mora na cidade de Taubaté. Ela me diz: “tenho olhado
mais a Serra da Mantiqueira e observado mais os pássaros nos finais de tarde conforme você me sugeriu (...) realmente, essa atitude de simplesmente olhar
para o que é belo e simples nos desestressa (...) pena que estamos nos
aproximando do final do ano e a cada final de ano essa sensação horrível de
que o tempo está passando tão rapidamente me entristece muito"
Na mesma hora digitei a resposta:
“(...) penso que não é a rapidez ou o escoar do tempo que
nos entristece. O que me causa grande amargor é saber que o tempo que nos
resta – independentemente de ser ou não final de ano – vai ficando mais curto,
não sabemos quanto, para realizarmos tudo o que ainda pretendemos. E há uma
relação que por falta de uma palavra mais adequada eu chamo de injusta, embora
não seja uma expressão justa. Relação, na minha idade, extremamente desproporcional entre o
tempo vivido e o tempo a viver no que diz respeito ao realizado e a realizar. À
medida que o tempo se escoa, que nós passamos, vamos descobrindo que há muito
mais coisas por fazer. Sinto que se eu tivesse uma semana de vida e conseguisse
listar tudo o que eu deveria ainda realizar antes de partir, essa relação seria
bem maior do que se enumerasse uma a uma
todas as coisas que já fiz durante a vida. E não foi pouco!
Penso que pessoas inconformadas como eu jamais se dão por realizadas, sempre terão mais a acrescentar às suas obras
tanto quanto mais se aproximem da consumação.
A minha tristeza maior ocorrerá no
dia-de-não-poder-fazer-mais-nada, ainda que a vida flua por mais alguns instantes. Não vejo na vida
qualquer grande significado se não houver realização nem capacidade de criar ou
produzir.
Eu disse que há uma relação injusta, não
encontrei ainda a melhor expressão mas dá para explicar matematicamente o meu
sentimento: cada dia vivido deve ser eliminado do saldo de nossa existência. Cada
hora a mais significa uma a menos.
Quando vivemos, morremos.”
Nunca enviei a resposta. Preferi
encaminhar votos de feliz Natal. Célia Maria não gosta de morrer enquanto vive. É uma mulher nascida para viver.
Gilberto Leite
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