terça-feira, 5 de novembro de 2013

Todo caos é necessário



O Big-bang, imagino, foi a primeira e maior tragédia do universo em que vivemos (há outros, acredito). Alguém conseguiria mensurar o “tamanho” da explosão? O quanto de irradiação, força, expansão, transformação e caos produzido a partir da energia liberada? Não, mas certamente ninguém quereria estar lá, nem de longe. A menos que longe signifique uns quinze bilhões de anos, onde nos encontramos agora.
Bem, se por um lado houve caos, por outro, não podemos negar, foi dele que tudo começou: poeira cósmica, gases, movimento, corpos celestes, asteroides, planetas, estrelas, sistemas, galáxias, você, eu, estrelas do mar, mares, abelhas, flores, florestas, formigas...
Imagino: um universo em formação não acontece sem “dor”, mas com transformações violentas, graves, monumentais!  O surgimento de um mínimo corpúsculo celeste não pode ter sido de forma zen, como o voo de uma borboleta sobre o jardim de um mosteiro budista. Um planeta, onde esteja, não teve origem e formatação isentas de explosões, colisões, tudo em âmbito gigantesco.  Dá para afirmar analogicamente que desde o primeiro instante até os nossos dias tudo tem sido uma guerra de estrelas. Umas contra as outras (aqui incluo todos os corpos celestes) e cada qual contra elas mesmas. Quando um corpo não está repelindo outro, está engolindo, destroçando!
Imaginemos a Terra. Ao nascer era uma gosma incandescente, longe da aparência que hoje possui.  Passou por incontáveis cataclismos até poder abrigar as primeiras espécies viventes e, após, outros cataclismos que a  adequaram para acolher a vida como hoje vemos.
Em resumo: toda a exuberância, o esplendor do planeta desde as suas mais encantadoras formações naturais até a exoticidade da vida não aconteceram da suavidade de um sopro, mas de caos.
O céu estrelado, enluarado; uma tarde de verão; uma folha cor-de-cobre despencando no outono; o sono tranquilo do bebê recém-nascido; o verde-escuro das montanhas delineando horizontes; o pássaro no galho da amoreira; tudo é resultado de abalos assombrosos.
A humanidade não teria evoluído ao que é hoje sem que as espécies anteriores tivessem passado por múltiplos sucederes de desastres. Por desastres, aqui, compreendamos todas as transformações necessárias à modelação dos ambientes naturais no percurso da evolução. Acrescentemos as imensuráveis crises provocadas pelas ações transformadoras conscientes, destacando, recentemente, as grandes guerras, principalmente as consideradas Primeira e Segunda  mundiais que, apesar dos danos irreparáveis à humanidade, trouxeram, em contrapartida, grandes desenvolvimentos tecnológicos. Consideremos a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, uma tragédia que gerou impulso para um posterior avanço econômico dos Estados Unidos da América com influência positiva na economia mundial.  A bomba atômica sobre Hiroshima, que permitiu ao povo japonês tomar seus resultados como motivação para transformar-se em  nação e país dos mais respeitados como potência tecnológica e  econômica.
Crises acontecem e delas nascem o progresso, as invenções, descobertas. Delas a humanidade extrai aprendizado para pensar novas estratégias, mudar os rumos e os focos.
Crises são bênçãos.
Não houvesse ocorrido a primeira tragédia, o Big-bang, não estaríamos aqui.
Portanto, não nos preocupemos com alguns sensacionalismos intencionais ou não, no sentido de disseminar pânico entre os povos. Aliás, com sensacionalismos não percamos nosso tempo nunca nem coloquemos em uso nossos neurônios que nos são mais úteis trabalhando em raciocínios edificantes.
Se o preço do barril de petróleo aumentou, se o dólar baixou, se a bolsa-de-não-sei-onde caiu, se a indústria automobilística está demitindo, não prejudiquemos o nosso sono nem o bom humor.  Tudo tem dois lados (no mínimo): ruim para uns, excelente para outros.
A crise, qualquer que seja, sempre é indício de preparação para um novo equilíbrio. Possivelmente sobre outro eixo, um novo ponto de apoio. A procura por eixos e pontos novos são condições para a não acomodação. Nada evolui na acomodação .  Do grão de pó ao maior dos universos possíveis, nada pode permanecer estático. Crises são uma das Leis. Sem elas não há progresso.


Gilberto Leite
gilbertoleite.sp@gmail.com


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