sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Deus não é bem assim



Há muitos anos, em um tempo já quase apagado da minha infância, perdi tragicamente uma pessoa muito querida e necessária em minha vida; desolado eu perguntava aos adultos por que aquilo havia acontecido comigo. Todos, em tom de consolo, me respondiam que “tinha sido feita a vontade de Deus”. 
Tempos mais tarde, mas ainda longe da idade da compreensão, perdi outra pessoa muito amada, vítima de uma doença prolongada e dolorosa. Inconformado, me via novamente em busca de explicações, mas tudo o que me diziam girava sempre em torno das mesmas afirmações: “Deus quis assim, Deus sabe o que faz...”
À medida que passava o tempo fui aprendendo através das pessoas que tudo o que nos fere, inclusive a morte de pessoas amadas e todas as outras desgraças, são cumprimentos dos desejos de Deus. 
Sendo assim, Deus não podia ser um sujeito bom que ama seus filhos. Deus, aquele que me apresentavam, era um ser sempre furioso, maldoso, insensível. E sendo assim, eu não necessitava mais andar lado a lado com ele, resolvi romper nossos laços. Afinal, quem precisa de um Deus cruel? Era o que eu pensava.
Foram necessários muitos anos para eu perceber que Deus não é bem assim. Nós fantasiamos muito a respeito do sofrimento, das coisas que não saem como pretendíamos e, para nosso próprio consolo - ou de terceiros - atribuímos a ele, Deus, a responsabilidade de todos os infortúnios.
Ele, criador de todas as coisas, é também o arquiteto de todas as leis, todas as já descobertas pela ciência e outras ainda nem sequer imaginadas. Uma delas é a lei do nascimento, desenvolvimento e morte. Seja de um universo com bilhões de galáxias equilibradas entre elas pela Lei da Atração ou da Gravidade, seja a de um ser humano como você e eu... Todo o tipo de existência presente, passada ou futura hão de cumprir a Lei, nascendo e morrendo. O que chamamos ou entendemos por sofrimento, dor, infortúnio, nada mais são do que nossos pontos de vista a respeito de nossos sentimentos individuais ou ainda conforme nossa visão de mundo ou visão do eu mesmo.
Portanto, Deus não é bem assim.
Não é bom nem mal - sob essa visão - mas justo.
E se pararmos para refletir melhor, descobriremos que há acontecimentos que, embora determinados por leis, nada têm a ver com a atuação pontual de Deus; são de nossa inteira responsabilidade:
Nós somos a principal fonte de energia das nossas limitações. Vivemos alimentando-as e aceitando-as como um destino definitivo e é assim que elas se instalam e permanecem em nós.
Toda vez que dizemos ou pensamos “nunca serei capaz”, estamos reafirmando limitações. Estamos determinando que não seremos capazes.
Quando explicamos nosso comportamento afirmando “Eu sou assim e não consigo mudar”, estamos construindo e fortalecendo os limites que nos impedem de avançar. Nossa mente é a responsável por nossa própria versão da realidade. Qualquer limitação que ocupe nossa mente é, de fato, real. E somos nós que pensamos. Deus não pensa por nós!
Devemos estar sempre atentos ao padrão de pensamentos que cultivamos. Se acreditamos que  “Nunca vou conseguir” , “Eu não posso” ou "Não nasci para ser feliz", acabaremos em breve sendo o resultado do que pensamos. Novamente, vale repetir, Deus nada tem a ver com isso.
Quanto às dores profundas, impossíveis de evitar, quando, por exemplo, por ocasião da perda de um ser amado, não entendamos como uma crueldade da Natureza ou de Deus. A perda, ou melhor, a morte é simplesmente o processo de realização de uma lei, e a nossa dor, por maior que possa parecer, em breve passará, tão logo compreendamos que o processo para o conhecimento de uma realidade mais ampla do que a da nossa versão limitada de vida, exige-nos um caminho de vicissitudes. 
Pensemos a respeito e fiquemos atentos àquela voz em nosso cérebro falando o dia inteiro. Ela está limitando ou impulsionando?  
Essa voz interior é capaz de dizer o que queiramos que ela diga. Você e eu, realmente, precisamos nos criticar e nos limitar? Trabalhemos para nos incentivar e observaremos quão rapidamente o mundo muda para melhor. E que Deus não é bem assim. Nossos detalhes, convicções ou sentimentos não o preocupam. E, pensando bem, ele nem deve ser tão egocêntrico a ponto de exigir que o cultuemos e adoremos acima de todas as coisas. Nem dá importância ao que somos. Se tão grande e poderoso, certamente não será ciumento, nem feroz, nem mesmo amoroso pois estará acima de qualquer sentimento insignificante como os nossos ainda que nos doam muito.
Deus não é bem assim...

Gilberto Leite


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