Há
muitos anos, em um tempo já quase apagado da minha infância, perdi tragicamente
uma pessoa muito querida e necessária em minha vida; desolado eu perguntava
aos adultos por que aquilo havia acontecido comigo. Todos, em tom de consolo, me
respondiam que “tinha sido feita a vontade de Deus”.
Tempos
mais tarde, mas ainda longe da idade da compreensão, perdi outra pessoa muito
amada, vítima de uma doença prolongada e dolorosa. Inconformado, me via
novamente em busca de explicações, mas tudo o que me diziam girava sempre em
torno das mesmas afirmações: “Deus quis assim, Deus sabe o que faz...”
À
medida que passava o tempo fui aprendendo através das pessoas que tudo o que
nos fere, inclusive a morte de pessoas amadas e todas as outras desgraças, são cumprimentos dos desejos de Deus.
Sendo
assim, Deus não podia ser um sujeito bom que ama seus filhos. Deus,
aquele que me apresentavam, era um ser sempre furioso, maldoso, insensível. E
sendo assim, eu não necessitava mais andar lado a lado com ele, resolvi romper
nossos laços. Afinal, quem precisa de um Deus cruel? Era o que eu pensava.
Foram
necessários muitos anos para eu perceber que Deus não é bem assim. Nós
fantasiamos muito a respeito do sofrimento, das coisas que não saem como
pretendíamos e, para nosso próprio consolo - ou de terceiros - atribuímos a
ele, Deus, a responsabilidade de todos os infortúnios.
Ele,
criador de todas as coisas, é também o arquiteto de todas as leis, todas as já
descobertas pela ciência e outras ainda nem sequer imaginadas. Uma delas é a
lei do nascimento, desenvolvimento e morte. Seja de um universo com bilhões de
galáxias equilibradas entre elas pela Lei da Atração ou da Gravidade, seja a de
um ser humano como você e eu... Todo o tipo de existência presente, passada ou
futura hão de cumprir a Lei, nascendo e morrendo. O que chamamos ou entendemos
por sofrimento, dor, infortúnio, nada mais são do que nossos pontos de vista a
respeito de nossos sentimentos individuais ou ainda conforme nossa visão de
mundo ou visão do eu mesmo.
Portanto,
Deus não é bem assim.
Não
é bom nem mal - sob essa visão - mas justo.
E
se pararmos para refletir melhor, descobriremos que há acontecimentos que,
embora determinados por leis, nada têm a ver com a atuação pontual de Deus; são
de nossa inteira responsabilidade:
Nós
somos a principal fonte de energia das nossas limitações. Vivemos
alimentando-as e aceitando-as como um destino definitivo e é assim que elas se
instalam e permanecem em nós.
Toda
vez que dizemos ou pensamos “nunca serei capaz”, estamos reafirmando
limitações. Estamos determinando que não seremos capazes.
Quando
explicamos nosso comportamento afirmando “Eu sou assim e não consigo mudar”,
estamos construindo e fortalecendo os limites que nos impedem de avançar. Nossa
mente é a responsável por nossa própria versão da realidade. Qualquer limitação
que ocupe nossa mente é, de fato, real. E somos nós que pensamos. Deus não
pensa por nós!
Devemos
estar sempre atentos ao padrão de pensamentos que cultivamos. Se acreditamos
que “Nunca vou conseguir” , “Eu não posso” ou "Não nasci para ser
feliz", acabaremos em breve sendo o resultado do que pensamos. Novamente,
vale repetir, Deus nada tem a ver com isso.
Quanto
às dores profundas, impossíveis de evitar, quando, por exemplo, por ocasião da
perda de um ser amado, não entendamos como uma crueldade da Natureza ou de
Deus. A perda, ou melhor, a morte é simplesmente o processo de realização de
uma lei, e a nossa dor, por maior que possa parecer, em breve passará, tão logo
compreendamos que o processo para o conhecimento de uma realidade mais ampla do
que a da nossa versão limitada de vida, exige-nos um caminho de
vicissitudes.
Pensemos
a respeito e fiquemos atentos àquela voz em nosso cérebro falando o dia
inteiro. Ela está limitando ou impulsionando?
Essa
voz interior é capaz de dizer o que queiramos que ela diga. Você e eu,
realmente, precisamos nos criticar e nos limitar? Trabalhemos para nos
incentivar e observaremos quão rapidamente o mundo muda para melhor. E que Deus
não é bem assim. Nossos detalhes, convicções ou sentimentos não o preocupam. E, pensando bem, ele nem deve ser tão egocêntrico a ponto de exigir que o cultuemos e adoremos acima de todas as coisas. Nem dá importância ao que somos. Se tão grande e poderoso, certamente não será ciumento, nem feroz, nem mesmo amoroso pois estará acima de qualquer sentimento insignificante como os nossos ainda que nos doam muito.
Deus não é bem assim...
Gilberto Leite
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